quarta-feira, 13 de outubro de 2010

“Obra escrita em linhas mortas”

No primeiro post citamos algumas características encontradas no neoclassicismo comparadas com o classicismo, através da análise do Panteon de Roma e da Universidade da Virgínia.





Analisando o texto de Marcos Moraes de Sá referente ao ornamento, nota-se que no classicismo, período marcado pela proporção e simetria, desenvolveram-se diversos elementos arquetípicos(colunas, frontões, pórticos). Como exemplo cita o Pantheon de Roma, uma associação da estrutura arquetípica dos templos gregos com agregação da planta circular e abóbada no teto,onde o pórtico seria a ‘’identificação’’ que a edificação tratava-se de um templo. 
Corte, fachadas e planta baixa do Pantheon de Roma


Daí em diante, a arquitetura clássica e seus elementos arquetípicos ganharam simbologia, significados de nobreza, austeridade, sobriedade, autoridade. Vemos muitos movimentos e períodos arquitetônicos que trouxeram esta concepção para as obras.
Podemos notar mais fortemente a simbologia principalmente na pureza do revivalismo neoclássico, onde a ideia de Architettura parlantte ‘’ cada edifício deve comunicar, na sua forma externa, a função que ele abriga’’(Marcos Moraes de Sá) desenvolve-se.
Igreja de Sainte Geneviève - Paris 

No período  acreditava-se , segundo Isabel Mirabent, que o neoclassicismo tratava-se de "arte intelectual’’, feita para a elite, distanciando-se das tradições populares que eram vistas com repulsa. Houve também uma grande influencia política, assegurando o emblema. “a tipologia do templo converteu-se em tipologia fundamental”.
Depois disso podemos citar diversos exemplos onde tal simbologia foi empregada, como nos exageros de Albert Speer na Alemanha nazista, ou no historicismo com suas recriações e interpretações. Atualmente, observamos diversos exemplares que mostram qual seu propósito conforme a utilizações de tais elementos. 
Chancelaria do Reich - Berlin


Lendo o artigo de Fernando Serapião para a revista ProjetoDesign de abril/04, encontrei ideias interessantes e pertinentes no que diz respeito as obras de gosto e estilo duvidosos que encontramos.

Projetos que privilegiam apenas fachadas;  falta de preocupação com o entorno; referências pobres;  e muito marketing e ostentação. É o que podemos observar em diversas edificações atuais que trazem referência ao clássico. 

 Nesta residência na região central da cidade, pode-se observar a tentativa de frontão grego, colunas Jônicas, simetria, coroamento , horizontalidade, e detalhes do revestimento externo.

Detalhe da coluna e revestimento

Perdura a ideia que o  classicismo mostra nobreza, estabilidade, tradição. Porém apenas apresenta revisitações  sem um “filtro” de características, como cita Fernando Serapião :

Esses neoclássicos possuem a mesma lógica e importância de uma obra escrita em línguas mortas, incompreensível para quem escreve e para quem lê. Mas o leitor, mesmo não entendendo uma linha sequer, acha aquilo nobre, bonito. Em contraposição, esses prédios são planejados de forma racional, com tecnologia de ponta. Ou seja, são edifícios inteligentes com projetos burros.(Fernando Serapião)



Residência com influências Neoclássicas.  Os frontões, aberturas e principalmente o branco contrastando com o tijolo à vista.


Exemplo comercial onde se aplica características clássicas de forma prática e “modular”, gerando grande impacto visual. 







“no entanto, pode ser vista como uma metáfora da visão que a sociedade tem do arquiteto: uma profissão com muita serventia na arte de adornar fachadas conforme tendências da moda.” (Fernando Serapião)
 








Fotos por Samara G. 
Postado por Priscila Z.S. 


MIRABENT, Isabel. Saber ver a arte neoclássica. São
Paulo : Martins Fontes, 1991.

GYMPEL, Jan. História da arquitectura da
antiguidade aos nossos dias. Colônia :
Könemann, 1996.

GLANCEY, Jonathan. A história da arquitetura.
São Paulo: Loyola, 2001.
SÁ, Marcos Moraes de. Ornamento e Modernismo: a construção de imagens na arquitetura. – Rio de Janeiro: Rocco, 2005.






5 comentários:

  1. Parabéns pela articulação com o texto de Serapião!
    Acho que poderiam comentar também sobre o simbolismo do neoclássico, conforme a profa. Mara, que está embutido ao se buscar o estilo do passado. As noções de status, de acesso ao que é nobre, etc.
    Concertem: é classicismo e não classismo.

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  2. É legal relacionarmos as imagens encontradas na cidade, assim percebemos que essas características fazem parte do nosso dia a dia!

    Safira Mônica Gatto

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  3. É.. Podemos ver claramente essa ''tradição'' que criou-se em torno da arquitetura clássica e neoclassica. Esse desejo de passar tradição, sobriedade e grandeza, que muitas vezes fica distorcido.

    Priscila Z. Schinaider

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  4. Concordo com a Priscila. É só agente olhar para os lados aqui em Chapecó e veremos muitas residências nobres e recentes que utilizam frontões como forma de demonstrar "poder".

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  5. Muito legal a maneira com que vocês levantaram a questão das construções atuais com características, para não dizer imitação dos período clássicos e neoclássico.
    É interessante se basear na história, mas o que valoriza e torna nobre, é fazer uma releitura das obras dos períodos passados, com traços contemporâneos e não a tentativa de cópia.


    Angelica Brazzo Vargas

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